Hoje a porta da casa da minha mãe fechou-se para sempre para
mim. Acabou, nunca mais lá vou voltar.
Guardarei para sempre nas minhas memórias e nas fotos que
guardei, aquela casa que foi para nós um palco do teatro das nossas vidas.
Guardarei e recordarei com saudades as memórias do que lá se
viveu.
Não serei a única, os meus irmãos, restante família e amigos
também a recordarão com saudades.
Aquela casa foi palco de amores, desgostos, festas, amor e
riso, sim muito riso.
Nunca foi uma casa amorfa, há algumas que o são, mas não a
da minha mãe.
Foi uma casa muito vivida. Uma casa muito habitada. Uma casa
que estava quase sempre cheia de amigos, os da minha mãe e os nossos.
Era uma casa que cheirava a perfume e a comida porque na
nossa casa os afectos passavam muito pela mesa e pela comida que se preparava
para os amigos.
Há casas sem alma, as pessoas praticamente só lá vão dormir.
Há casas tristes em que as pessoas que as habitam não conversam, não riem, não
fazem brincadeiras. A casa da minha mãe era tudo menos isso.
Hoje fiz-lhe festas e despedi-me dela, tal como fazemos com
as pessoas, agradeci-lhe tudo o que encerrará para sempre e aquilo que
representou para todos os que por lá passaram e que foram muitos.
E sei que, quando os meus filhos tiverem de passar pelo
mesmo e espero que o passem, porque significará que tudo correu bem e que a vida
seguirá a sua ordem natural, sentirão o mesmo. A nossa casa nunca terá sido uma
casa sem vida. Terá sido palco de muito amor, carinho, festas, desgostos,
lágrimas e principalmente muito riso.
Porque é que eu conto estas coisas? Porque esta sou eu, sem
véus.
Ana Silvestre
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