Há certas coisas em Portugal que me irritam sobremaneira.
Eu sou portuguesa, alfacinha de gema, ou seja nasci em
Lisboa e os meus pais nasceram ambos também em Lisboa, sou portanto portuguesa
de todos os costados.
Mas não me identifico nem nunca me identifiquei com esta
espécie de fado da alma portuguesa. E eu até gosto de fado, não gosto é de
fatalismos, pessimismo e este encolher de ombros que muitos portugueses têm
perante o que lhes acontece.
Irrita-me quando pergunto a alguém como foram as férias ou o
Natal, e ele me responde com um encolher de ombros: “passou-se”. Que se passou
já eu o sei, como tudo se passa. Passa a noite, passa o dia e passa a vida. As férias
e as festas ou foram boas ou más, “passou-se” não é resposta plausível, na
minha opinião.
Outra coisa que me enerva e os meus amigos brincam comigo a
toda a hora, respondendo-me assim, é quando dizem “é o país que nós temos”. Nunca
dizendo isto se for uma coisa boa, só é assim para as más, como se fosse tudo
mau no nosso país.
Porque é que quando ganhamos alguma coisa, quando nos
distinguimos a nível mundial, quando somos elogiados, ninguém diz: “É o país
que nós temos”?
Eu acho que nasci num país maravilhoso, com um bom clima,
com óptimas praias, com lindas florestas. Adoro a nossa comida e gosto ainda
mais do nosso espírito hospitaleiro e altruísta. Gosto dos portugueses. É este
o país que nós temos. Bom.
Ana Silvestre
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