20 dezembro, 2014

Demonstrar os sentimentos


Tenho-me apercebido que muita gente se queixa e sente mágoa por o companheiro ou companheira ou mesmo os filhos, pais ou amigos, não demonstrarem os sentimentos.

Todos nós gostamos e precisamos de sentir que somos amados.

Mas nem todos conseguem demonstrar e muito menos, verbalizar.

Eu penso que sempre fui carinhosa e emotiva, porque lembro-me de em pequena muita gente referir isso e dizer que a minha irmã era arisca, não dava beijos nem abraços a ninguém e eu era do género de demonstrar.

Em relação a mim a minha irmã sempre foi extremamente carinhosa, mas talvez não o fosse com os mais velhos, nós temos apenas um ano e meio de diferença por isso também não tinha idade para reparar nisso, sendo eu a mais nova.

A minha mãe, embora eu não duvide do amor que nos tinha aos três, também não era muito de demonstrar. Em pequena agarrava-se a mim e beijava-me mas depois à medida que fui crescendo, raramente o fazia. Demonstrava de outras formas, por exemplo chamando-me de querida ou de Béquita, que era o nome que todos me chamavam em família e quando eu ligava para o telemóvel dela, tinha como waiting ring para todos os filhos uma música do André Sardet a dizer: “gosto de ti desde aqui até à lua”…

Com a doença muita coisa começou a mudar, passámos a dizer diariamente que nos amávamos, olhos nos olhos. Passámos a beijar-nos e abraçar-nos espontaneamente e conseguimos conversar de muitas mágoas que tinham ficado esquecidas no passado.

Com os meus filhos mais velhos às vezes também tenho uma certa dificuldade em verbalizar o quanto os amo e muitas vezes tenho de pensar que tenho de lhes dizer porque eu também queria que a minha mãe me dissesse quando eu tinha a idade deles.

Com os meu marido, não tenho dificuldade nenhuma, porque ele é extremamente carinhoso comigo e diz várias vezes ao dia que me ama e prepara-me surpresas e torna o meu dia de anos sempre numa enorme festa e é fácil então eu dizer-lhe que o amo.

Com os irmãos e amigos também facilmente demonstro o meu amor por eles.

E então chego à conclusão que não interessa de onde viemos ou como nos trataram a nós, é uma questão de treino e de querer e aquilo que desejo e que tenho em mente hoje em dia é que ninguém precise de ter uma doença como a da minha mãe e milhares de outras pessoas para aprenderem a verbalizar e demonstrar aquilo que sentem.

Nós tivemos a sorte de conseguir fazê-lo, há muita gente que não tem, porque a vida pode mudar num segundo.

É por isso que eu digo que digam a todos os que amam o quanto o amam, abracem, beijem e demonstrem, amanhã pode não dar tempo.

Ana Silvestre

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