Tenho-me apercebido que muita gente se queixa e sente mágoa
por o companheiro ou companheira ou mesmo os filhos, pais ou amigos, não
demonstrarem os sentimentos.
Todos nós gostamos e precisamos de sentir que somos amados.
Mas nem todos conseguem demonstrar e muito menos,
verbalizar.
Eu penso que sempre fui carinhosa e emotiva, porque
lembro-me de em pequena muita gente referir isso e dizer que a minha irmã era arisca,
não dava beijos nem abraços a ninguém e eu era do género de demonstrar.
Em relação a mim a minha irmã sempre foi extremamente
carinhosa, mas talvez não o fosse com os mais velhos, nós temos apenas um ano e
meio de diferença por isso também não tinha idade para reparar nisso, sendo eu
a mais nova.
A minha mãe, embora eu não duvide do amor que nos tinha aos
três, também não era muito de demonstrar. Em pequena agarrava-se a mim e
beijava-me mas depois à medida que fui crescendo, raramente o fazia. Demonstrava
de outras formas, por exemplo chamando-me de querida ou de Béquita, que era o
nome que todos me chamavam em família e quando eu ligava para o telemóvel dela,
tinha como waiting ring para todos os filhos uma música do André Sardet a
dizer: “gosto de ti desde aqui até à lua”…
Com a doença muita coisa começou a mudar, passámos a dizer
diariamente que nos amávamos, olhos nos olhos. Passámos a beijar-nos e
abraçar-nos espontaneamente e conseguimos conversar de muitas mágoas que tinham
ficado esquecidas no passado.
Com os meus filhos mais velhos às vezes também tenho uma
certa dificuldade em verbalizar o quanto os amo e muitas vezes tenho de pensar
que tenho de lhes dizer porque eu também queria que a minha mãe me dissesse
quando eu tinha a idade deles.
Com os meu marido, não tenho dificuldade nenhuma, porque ele
é extremamente carinhoso comigo e diz várias vezes ao dia que me ama e prepara-me
surpresas e torna o meu dia de anos sempre numa enorme festa e é fácil então eu
dizer-lhe que o amo.
Com os irmãos e amigos também facilmente demonstro o meu
amor por eles.
E então chego à conclusão que não interessa de onde viemos
ou como nos trataram a nós, é uma questão de treino e de querer e aquilo que
desejo e que tenho em mente hoje em dia é que ninguém precise de ter uma doença
como a da minha mãe e milhares de outras pessoas para aprenderem a verbalizar e
demonstrar aquilo que sentem.
Nós tivemos a sorte de conseguir fazê-lo, há muita gente que
não tem, porque a vida pode mudar num segundo.
É por isso que eu digo que digam a todos os que amam o
quanto o amam, abracem, beijem e demonstrem, amanhã pode não dar tempo.
Ana Silvestre
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