11 novembro, 2014

O som da casa da minha mãe


A casa da minha mãe já faz eco. É estranho. Dei por isso na última vez que lá estive, ao falarmos, a nossa voz ecoava pela casa.

E veio-me então à memória o primeiro dia em que entrei naquela casa, mudámo-nos para lá eu com três e a minha irmã com quatro anos. Lembro-me de corrermos pela casa inteira aos gritos, a rirmos e felizes com o som que ressoava.

Lembro-me de subir para cima da chaminé que tinha um balcão para elevar o fogão e de gritar para cima, para o buraco da chaminé.

Lembro-me da nossa alegria e espontaneidade, próprias de crianças com aquelas idades.

Provavelmente foi nesse dia que descobri que havia uma coisa chamada eco, provavelmente foram os meus pais que me explicaram que som era aquele que reproduzia as nossas vozes.

Depois desse dia e após casar-me tornei a ouvir o eco das casas por onde passei e das casas de onde saí. Foram sempre sons alegres, que anunciavam mudanças para melhor.

Nenhum som me pareceu tão triste como o som da casa da minha mãe, que sei que ficará muda quando fecharmos aquela porta pela última vez.

Pelo menos para nós. Espero que ali habitem no futuro muitas crianças e que a casa se encha de novo com sons e que deixe de se ouvir o eco.

Ana Silvestre

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