A casa da minha mãe já faz eco. É estranho. Dei por isso na
última vez que lá estive, ao falarmos, a nossa voz ecoava pela casa.
E veio-me então à memória o primeiro dia em que entrei
naquela casa, mudámo-nos para lá eu com três e a minha irmã com quatro anos. Lembro-me
de corrermos pela casa inteira aos gritos, a rirmos e felizes com o som que
ressoava.
Lembro-me de subir para cima da chaminé que tinha um balcão
para elevar o fogão e de gritar para cima, para o buraco da chaminé.
Lembro-me da nossa alegria e espontaneidade, próprias de
crianças com aquelas idades.
Provavelmente foi nesse dia que descobri que havia uma coisa
chamada eco, provavelmente foram os meus pais que me explicaram que som era
aquele que reproduzia as nossas vozes.
Depois desse dia e após casar-me tornei a ouvir o eco das
casas por onde passei e das casas de onde saí. Foram sempre sons alegres, que
anunciavam mudanças para melhor.
Nenhum som me pareceu tão triste como o som da casa da minha
mãe, que sei que ficará muda quando fecharmos aquela porta pela última vez.
Pelo menos para nós. Espero que ali habitem no futuro muitas
crianças e que a casa se encha de novo com sons e que deixe de se ouvir o eco.
Ana Silvestre
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