11 dezembro, 2013

Texto por Ana Silvestre

Todos nós já sofremos desilusões, isso é certo e sabido
As desilusões começam logo em criança, quando esperamos alguma coisa que depois não se realiza, ou quando queríamos determinado brinquedo e estava esgotado ou os nossos pais não tiveram a possibilidade de nos comprar
Depois adolescentes, quando nos apaixonamos e não somos correspondidos ou quando nos fartámos de estudar e não tivemos a nota que estávamos à espera
Depois de adultos, as desilusões continuam, com a expectativa que criámos em relação a um emprego e escolheram outra pessoa, quando o nosso marido ou mulher não reage como esperávamos, quando promoveram outra pessoa no emprego, que não nós mesmos.
São desilusões atrás de desilusões
Mas as desilusões que eu acho que mais custam, são aquelas que apanhamos em relação aos nossos pais e principalmente aos nossos filhos
Em relação aos nossos pais, porque nós esperamos que os nossos pais nos amem, que nos compreendam sempre, que não nos critiquem, como se eles tivessem de conhecer-nos pelo avesso. Só que ninguém é perfeito, nem os pais… os pais também erram, também têm defeitos, também têm dias maus, também se irritam e são injustos
Em relação aos filhos, acho que é a que custa mais.
Quando os nossos filhos nascem, tão pequeninos, tão indefesos, os mais lindos aos nossos olhos e nós a acharmos que eles vão ser perfeitos para sempre
Os nossos filhos vão ser tudo aquilo que desejámos e não conseguimos. Vão ser sempre muito inteligentes e alunos esforçados, vão ser sempre muito bem comportados, vão ouvir os nossos conselhos, vão escolher uma profissão com futuro, vão casar com uma boa rapariga ou um bom rapaz, vão andar sempre por “bons caminhos”
Só que na maior parte das vezes os filhos trocam-nos as voltas, e quando damos por nós estamos abismados a olhar para eles, a pensar como é que os professores podem estar a dizer aquilo dos nossos filhos, nós que sempre os educámos para serem uns meninos bem comportados. Depois alguns vêm com más notas e nós a pensarmos em que é que falhámos, porque é que temos um filho que sempre foi um excelente aluno e o outro é tão sorna, porque é que ele ou ela não gostam de educação física.
Depois começam as exigências para a liberdade, para as saídas à noite, o braço de ferro entre pais e filhos, as mentiras.
E então um dia, percebemos que aqueles filhos já não são os nossos pequeninos indefesos e que temos de deixá-los ir, temos de deixar que cometam erros, temos de deixá-los escolher a sua própria vida e isso dói, se dói!
E então compreendemos que tal como nós, os nossos filhos também não são perfeitos, também eles erram, e têm dias maus e às vezes são injustos e querem percorrer a sua própria estrada da vida e nós temos de aceitá-los e amá-los mesmo com todos os seus defeitos, mesmo com todo o seu mau feitio, mesmo a fazerem coisas mal feitas, mesmo às vezes sendo malcriados. Porque são nossos filhos e nós os amamos como nunca julgámos ser possível amar alguém, porque nada destrói a linha invisível que nos une e porque sabemos que mais tarde ou mais cedo, eles amadurecem e voltam para nós
E então, somos muito mais felizes, porque finalmente percebemos e aceitámos e é aí que amadurecemos como pais
Ana Silvestre

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