06 janeiro, 2015

Saber ser pai


Há homens que não sabem ser pais, assim como há mulheres que não sabem ser mães.

Deveria ser instintivo e na maior parte dos casos, penso que é.

Penso ser mais fácil para as mães, o seu papel, porque passam nove meses a gerar um novo ser, sentem-no mexer e habituam-se à sua presença.

Quando o filho nasce, na maior parte dos casos, é amor à primeira vista, ou paixão mesmo. No meu caso, ficava completamente embevecida a olhar para eles e custava-me horrores separar-me deles nem que fosse por uma hora, parecia que faltava uma parte de mim.

Com os pais, penso que é diferente. Embora saibam que está ali o seu filho, não o sentiram crescer dentro de si, talvez o tenham visto mexer na barriga da mãe, provavelmente viram as ecografias, mas quando o pegam ao colo é a primeira vez que tomam de facto contacto com ele.

E eu penso que há pais que não sabem ser pais, porque os seus pais também nunca o souberam.

Há mães que fazem de tudo para substituírem o papel do pai. Não querem que o pai faça nada, porque acham que só elas é que sabem cuidar do filho.

Se pedem ao pai para escolher a roupa para o bebé e ele escolhe coisas que não combinam, gozam com eles e vão a correr escolher outra roupa e assim os pais vão deixando de fazer aquilo que também é direito deles.

Eu lembro-me que quando tive o meu segundo filho, tinha o mais velho três anos e meio e o pai vestiu-o para ir visitar o irmão e a mim ao hospital, apareceu-me com uma roupa que não combinava em nada e com o cabelo completamente desgrenhado, ainda hoje me dá vontade de rir a carinha dele, tão mal arranjadinho pelo pai, mas não veio daí mal ao mundo, pelo contrário, serve para eu recordar ainda melhor esse dia. Se tivesse ido muito bem vestido, provavelmente nem me lembrava.

Muitas vezes é a mãe que dá a educação, o pai quando chega a casa serve unicamente para brincar um pouco ou então nem para isso.

Aquele filho, que nunca teve um modelo de um pai como deve ser, provavelmente quando também for pai, não saberá qual o seu papel.

Ou imita o que o pai fez com ele e delega tudo na mulher, ou tenta fazer tudo ao contrário e tenta fazer com os filhos, aquilo que não fizeram com ele, tentando proporcionar aos filhos tudo o que sentiu falta na infância.

Eu acho que um não substitui o papel do outro, apenas o substituirá quando o pai ou mãe não puderem estar presentes, seja por morte, abandono ou outra coisa qualquer.

Quando existem pai e mãe numa casa, nenhum se deve sobrepor ao outro.

As crianças precisam de amor, quanto mais melhor.           

E os pais não devem nunca permitir que alguém lhes retire o seu direito de serem pais, de alimentarem os filhos, de os vestirem com as roupas que escolheram para eles (enquanto são pequeninos e incapazes de escolher sozinhos), passear com eles, ralhar com eles, brincar com eles, e tudo o que tiver a ver com a vida do seu filho ou filha.

Quando os filhos crescerem, recordarão o grande pai que tiveram e saberão ser pais dos seus próprios filhos.

Ana Silvestre

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