Há olhinhos matreiros e há olhares puros.
Eu dou-me melhor com os segundos. Quando olhamos nos olhos
de alguém e parece que lhe desnudamos a alma. Sentimos que não escondem nada.
São sinceros e transmitem bondade.
Depois há os olhinhos matreiros, que não nos deixam
confortáveis. Sentimos que se esconde ali algo. Escondem maldade ou engano ou
qualquer coisa sombria.
Um dia destes fui comprar um pijama a uma lojinha de rua e
senti isso. A senhora que me atendeu, já com uma certa idade, tinha aquele
olhar sibilino… quando lhe perguntei qual a percentagem de desconto porque na
montra anunciava os saldos, respondeu-me com olhares evasivos e mirando-me pelo
canto do olho, como se a tirar-me as medidas, ou a ver que desconto me havia de
fazer. Se fosse pouco corria o risco de eu me ir embora de mãos a abanar.
E então respondeu-me: ah nos pijamas é só um miminho. E eu a
pensar de quanto raio seria o miminho de que ela falava.
O miminho foi de dois euros e eu paguei e saí, não sem antes
lhe ter pedido a factura com número de contribuinte, que ela já me tinha
perguntado anteriormente se eu queria, julgando talvez que eu era fiscal das
finanças.
E de a ter ajudado a pôr o terminal de multibanco a
funcionar, que ela dizia que estava meio avariado, mas eu tenho para mim, que
ela queria era que eu pagasse em dinheiro.
Mas lá descobri como a geringonça trabalhava, paguei e saí. O
pijama foi caro, mas é de boa qualidade e o meu marido ficou bastante
satisfeito.
Ana Silvestre
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