24 novembro, 2014

Faz dois meses que a minha mãe morreu


Faz hoje dois meses que a minha mãe morreu. Continua a parecer-me impossível saber que nunca mais vou poder abraçá-la, beijá-la ou simplesmente falar com ela.

Foram dois meses intensos de trabalho em sua casa, para desmontar tudo e vazá-la.

O trabalho em casa de cada um continua, com papéis e fotos para ver e decidir o que se há de fazer com eles.

Algumas pessoas ficaram surpreendidas com a morte da minha mãe, acharam-na repentina, talvez por não saberem o seu real estado de saúde.

Nós tivemos dois anos e meio para nos prepararmos, mas na realidade nunca estamos preparados.

Nos últimos dois meses da sua vida, os quais ela os passou internada, assistimos à sua deterioração, deixou de andar, inchou com a cortisona, apareceu-lhe “zona” o que lhe dava dores horríveis que só amenizavam com morfina, perdeu o cabelo e por fim, mal falava.

Nos últimos dias nós só pedíamos a Deus e aos médicos que ela não sofresse mais, sentíamos que estávamos a ser egoístas ao querer que ela permanecesse viva unicamente para sentirmos que ainda tínhamos mãe. E no entanto era como se já não tivéssemos, porque a abraçávamos e beijávamos muito e constantemente mas ela já mal reagia.

Nos últimos dois dias, deixou de comer, beber e falar.

Vi coisas naquele hospital que nunca esquecerei. Caras deformadas, pessoas com uma cor tal que pareciam mortas, pais com filhos doentes, pais a despedirem-se dos filhos, tal como nós fizemos com a minha mãe.

Chega a uma altura em que a única coisa que queremos é acabar com o sofrimento daqueles que amamos. Custa muito.

Ana Silvestre

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